Jornada Homeschooling: Do início ao ENCCEJA
Como uma pessoa que faz homeschooling pode obter seu diploma de formação no Ensino Médio? O caminho mais comum, e o que eu segui, é através do ENCCEJA, uma prova promovida pelo governo, gratuita, que ocorre uma vez ao ano.

Meu nome é Giovana Bereta Gava, sou filha de Flávio e Daniele, membros ativos da comunidade Educalar. Eu e meus irmãos mais novos, Lucas e Davi, iniciamos a jornada do estudo em casa há cinco anos. Atualmente, tenho 18 anos e posso dizer que, graças a Deus, estou formada no Ensino Médio.
Como uma pessoa que faz homeschooling pode obter seu diploma de formação no Ensino Médio? O caminho mais comum, e o que eu segui, é através do ENCCEJA, uma prova promovida pelo governo, gratuita, que ocorre uma vez ao ano. Ao passar na prova se recebe um certificado de graduação equivalente ao fornecido pelas escolas.
A experiência com o homeschooling
Há aproximadamente oito meses antes de começarmos o estudo em casa, meus pais contaram a mim e aos meus irmãos sobre essa possibilidade. Eu estava com treze anos, frequentei a escola desde os quatro; na hora pensei: isso é loucura! Diferente dos meus irmãos, que amaram a ideia de imediato, fiquei a princípio relutante. Me perguntava: “como farei amigos?”, “como vai ser minha vida agora?”.
Em minha cabeça, na época, uma formação fora da escola era algo completamente estranho, como é para a maior parte das pessoas que tem seu primeiro contato com essa forma diferente de educação e ensino.
Essas inquietações, porém, não duraram muito tempo, me adaptei mais rapidamente do que esperava ao novo estilo de vida e aprendizagem, e passei a valorizá-lo muito! Hoje vejo essa grande mudança como uma das maiores bênçãos de Deus em minha vida, pois Ele a usou para me levar para mais perto dEle e de minha família, e me permitiu experienciar e desenvolver coisas que de outra forma eu não poderia.
Quero, como homeschooler, oferecer algum conforto e encorajamento para pais e crianças/jovens que têm adentrado esse novo mundo, talvez cheios de dúvidas e preocupações sobre algumas áreas. Buscarei, através da minha breve experiência falar de alguns pontos que talvez possam ajudar.
Muitos podem ter receios parecidos com os que eu tinha: Como farei amigos? Viverei isolado do resto do mundo? E a socialização?
Esta última é uma das perguntas mais frequentemente feitas às famílias que fazem homeschooling. Posso começar dizendo que a socialização mais primordial que uma criança pode ter é na convivência do lar. Em uma família existem pessoas com idades diferentes, papéis diferentes, personalidades e gostos diferentes. Através do convívio familiar aprendi a apreciar desde cedo conversas na mesa dos adultos, me interessando pelo que eles têm a dizer, ao mesmo tempo que, pela convivência intensa com meus irmãos mais novos, pude desfrutar mais da infância, deixando a criatividade fluir nas mais diversas brincadeiras. A família é um dos maiores instrumentos de Deus para trabalhar em nosso caráter, para nos ensinar a nos submeter às autoridades, a cuidar dos mais frágeis, a resolver conflitos, entre muitas outras coisas. Ter esse convívio amplamente intensificado pelo estudo em casa me moldou bastante.
Quanto à questão dos amigos, há vários lugares em que crianças e jovens homeschoolers podem fazer amizades, o principal deles, eu diria, é na igreja; foi onde pude encontrar amizades duradouras e que me levaram a conhecer ainda mais pessoas. Mas também praticamos esportes, temos hobbies, frequentamos parques, bibliotecas etc. Há muitos lugares fora da escola que proporcionam a oportunidade de formar laços de amizade, inclusive, de forma mais profunda.
O foco de nossa educação foi o entendimento de que nossa vida é para a glória do nosso Deus, isso inclui cada área, inclusive nossos estudos. Percebendo que a escola divergia desse propósito, meus pais buscaram o caminho da educação domiciliar. Nosso estudo se tornou algo mais personalizado, focado em fundamentar nossa fé, nos capacitar a aprender por conta e desenvolver nossas habilidades e talentos particulares.
Seguimos como base em nosso estudo o currículo do Mackenzie, mas não nos limitamos a ele. Para algumas coisas, buscamos outros métodos. Por exemplo, para aprender inglês, eu assistia filmes com o áudio e a legenda em inglês, para associar a pronúncia das palavras com sua escrita e entender seu significado através do contexto que eu estava vendo. Esse método para mim foi muito mais eficaz do que começar estudando por uma apostila de gramática. Assim como um bebê, aprendi primeiro a ouvir e entender, depois a falar, e só depois parti para a leitura de livros e apostilas em inglês, para compreender melhor a língua com a qual eu já estava acostumada. Isso abriu a porta para que eu desse aulas particulares para as crianças ao meu redor, ensinando o básico do inglês, com um método mais focado na fala e leitura.
Assim como no inglês, pude me desenvolver ainda mais nas artes, que sempre me atraíram. Comecei a pintar e desenhar com grande frequência, dando cada vez mais foco para essa área. Também pude focar mais em meus estudos musicais. Cresci tendo aulas de música com minha avó, assim como meus irmãos; pouco tempo depois que comecei a estudar em casa, tendo mais disponibilidade de tempo, pude ajudá-la nas aulas, e hoje temos levado esse projeto juntas, ensinando música para crianças. E mais recentemente, dei aulas particulares de pintura e desenho, iniciando a criação do meu próprio material. Ao ensinar, comecei a aprender de verdade.
Atualmente, faço um curso de ilustração, e sigo dando minhas aulas, fazendo alguns trabalhos artísticos aqui e acolá.
São coisas que pude desenvolver graças ao apoio dos meus pais e à oportunidade que Deus me deu de ter a liberdade de focar em meu desenvolvimento nas áreas que para mim eram importantes.
As vocações, dons e desejos de cada um são diferentes, e o caminho é mais simples se desde cedo temos a oportunidade de identificar e buscar crescer naquilo que terá relevância mais duradoura em nossas vidas, ao invés de estudarmos e vivermos focados simplesmente em passar no Enem.
O ENCCEJA
Para realizar o ENCCEJA é preciso ter 18 anos na data da prova, mas não necessariamente na data da inscrição; me inscrevi com 17 anos, mas em agosto, quando realizei a prova, já era maior de idade.
Essa prova acontece uma vez por ano e ocorre no país inteiro, mas não em todas as cidades; tive de ir para uma cidade próxima para realizar a prova. A avaliação é feita em um dia só, e acontece durante dois períodos, manhã e tarde. O ENCCEJA é composto de quatro provas de 30 questões, que englobam um conteúdo básico que se aprende no ensino médio, mas, a meu ver, muitas das questões exigem apenas uma boa interpretação textual. E há também uma redação. Para se formar, não é preciso fazer a prova do ensino fundamental; sendo aprovado na prova do Ensino Médio, já se obtém o certificado.
A Preparação para o ENCCEJA
Minha preparação para essa prova consistiu basicamente em fazer simulados e repassar os conteúdos que percebi que ainda estavam em falta, além de escrever redações baseada em temas propostos em anos anteriores. A nota máxima que se pode obter em cada matéria é 180, e com o mínimo de 100 pontos você é aprovado. As exigências não são muito elevadas.
4 Dicas práticas que podem te ajudar nessa trajetória:
1 - Estude segundo seu foco a longo prazo, não focado em passar nessa prova;
2 - Crie gosto pela leitura e treine sua escrita;
3 - Se autoavalie, seja com simulados ou de outras formas;
4 - Sane suas dúvidas naquilo em que perceber brechas.
Creio que o propósito do ensino e do estudo é se aproximar mais da Verdade, e apesar de muitos tropeços da minha parte pelo caminho, uma das formas que Deus usou e tem usado pra me conduzir a isso é o homeschooling e as oportunidades que ele proporcionou.
Visite o site do INEP ↓
https://encceja.inep.gov.br/encceja/#!/inicial
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Texto: Giovana Gava - Homeschooler.
Revisão: Bárbara Guinalz - Equipe Educalar
Imagem: Canva Educalar
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