Técnicas de Estudo: A Sessão de Estudos.
Uma vez que o estudante compreendeu a importância de práticas disciplinadas e estratégias de estudo e aprendizagem, assim como a importância de criar condições adequadas e favoráveis ao estudo por meio da estruturação de seu ambiente de trabalho, é hora de organizar a prática propriamente dita.

Uma vez que o estudante compreendeu a importância de práticas disciplinadas e estratégias de estudo e aprendizagem, assim como a importância de criar condições adequadas e favoráveis ao estudo por meio da estruturação de seu ambiente de trabalho, é hora de organizar a prática propriamente dita.
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A sessão de estudo corresponde àquele período em que o estudante estará efetivamente engajado em empreender todas as práticas que nesta série de artigos. Todas as técnicas e instruções, assim como todo resultado da reflexão do estudante acerca de suas próprias práticas de estudo somente ganharão sentido dentro do lapso temporal que aqui chamamos de sessão de estudo. Em parte, e muito sucintamente, a sessão de estudo já foi mencionada anteriormente, quando discutimos o manejo do espaço e do tempo pelo estudante. Mencionamos as características que devem ser buscadas ou produzidas no espaço de estudo, de modo a favorecerem a aprendizagem, e discutimos o manejo racional do tempo, por meio de instrumentos como o calendário e a agenda. Agora discutiremos a preparação necessária, as exigências e resultados que devem ser perseguidos para cada sessão de estudo.
Muito em acordo com o que já foi dito sobre a adequação do espaço às práticas de estudo, o estudante deve também buscar adequar as condições físicas e mentais em que pretende estudar. Alguns processos psicológicos são de extrema relevância para o sucesso do estudo, sendo o principal deles a atenção. Ela pode ser direta ou indiretamente afetada pelas condições físicas e mentais do estudante. Além disso, a atenção é um processo crítico para outros processos também importantes nas práticas de estudo eficaz, como a memória, o raciocínio e a resolução de problemas.
Segundo Lent (2010), a atenção pode ser entendida em duas dimensões principais: (a) um estado geral de sensibilidade à estimulação, seja interna ou externa, e (b) a sensibilidade mais especificada sobre outros processos mentais ou neurobiológicos. A sensibilidade especificada – o que geralmente descrevemos pela analogia do foco – depende da sensibilidade geral – e essa geralmente descrevemos como estado de alerta. Assim, que a nossa atenção possa ser focada depende de que estejamos em estado adequado de alerta. Uma alteração neste estado de alerta pode comprometer os resultados da atenção. Se somos sensíveis de menos às fontes de estimulação ao nosso redor, a atenção falha em nos prover da informação de que eventualmente necessitamos, assim como quando somos sensíveis demais e a grande quantidade de informação a que temos acesso não pode ser adequadamente processada. Não custa lembrar que a nossa mente dispõe de uma capacidade limitada de processamento de informação e, por isso, o ambiente da sessão de estudos deve ser manejado de maneira a garantir que as fontes de estimulação ao nosso redor não excederão essa capacidade de processamento. Eis alguns fatores que podem alterar a nossa atenção e prejudicar a nossa sessão de estudo: nossos padrões de alimentação e exercício físico, alterações em nosso sono e ansiedade.
Fatores que afetam a qualidade das seções de estudo.
Estar bem alimentado antes da sessão de estudo é fundamental por pelo menos duas razões importantes. Em primeiro lugar, a fome e a sede são estados motivacionais regulares do nosso corpo (Lent, 2010), os quais nos impelem a fazer ajustes fisiológicos importantes e, portanto, consomem recursos de nossa atenção, além de causarem incômodo até que os ajustes sejam feitos. Assim, fome e sede são fontes de distração que devem ser evitados. Além disso, alguém com fome ou sede fica mais irritadiço, se distrai com facilidade, se torna menos tolerante à frustração etc., e tudo isso dificulta ainda mais a sessão de estudo.
Em segundo lugar, a nossa alimentação também se relaciona com um estado geral de disposição para o desempenho de qualquer tarefa. Quando estamos bem alimentados há disponibilidade de energia para o consumo em tarefas, e é preciso lembrar que as tarefas realizadas pelo cérebro consomem bastante oxigênio e glicose. A alimentação adequada será leve, diversificada e bem distribuída ao longo do dia. Quando ela é excessiva, também pode causar mal-estar e prejudicar de outra maneira nossa disposição para as tarefas mentais. A prática de atividade física também é uma maneira muito utilizada de contribuir para a regulação das funções corporais – como sono e digestão – e é bem evidente que ela pode oferecer sentimento de bem-estar e boa disposição física. Assim, a boa alimentação deve ser associada a alguma prática de atividade física, a fim de que todas as funções orgânicas contribuam para uma boa disposição. Cuidar disso é também uma maneira de criar condições para o bom proveito das atividades de estudo e, certamente, uma prática estratégica.
O segundo fator com o qual precisamos lidar é o sono. É óbvio que se dormimos de menos ou demais teremos dificuldades para nos manter em estado ótimo de alerta, e isso prejudicará não apenas a atenção, mas também a memória e o raciocínio. No entanto, há outra maneira pela qual o sono afeta a aprendizagem. Como nos lembram Cosenza e Guerra (2011), muitos estudos empíricos apontam o fato de que o sono – e o sono profundo – é imprescindível para o processo de consolidação de memória, isto é, o processo pelo qual o cérebro se transforma de modo a armazenar informação que possa ser posteriormente evocada e utilizada. Por essa razão, devemos cuidar do nosso sono, para que ele seja suficiente, nem de menos nem demais.
Eles também nos lembram do terceiro fator, a saber, o fato de que as emoções são moduladores do processo de aprendizagem. Elas podem tornar significativo algum evento, alguma informação ou habilidade, por exemplo, e, portanto, favorecer o processo pelo qual são armazenados ou aprendidos. Não apenas isso, mas a ansiedade também pode alterar a nossa atenção, tornando-nos hipervigilantes ou fazendo com que algum tipo de pensamento capture boa parte de nossos recursos de atenção e, assim, eventualmente nos distraindo de nossas tarefas de estudo.

A atenção e a higiene da sessão de estudo
A sessão de estudo, portanto, deve ser preparada com a adequada higiene física e mental, com o fim de que o estudo seja proveitoso. Esses dois tipos de cuidado estão intimamente relacionados um ao outro. Quanto à alimentação, o ideal é que, além de variada e equilibrada com todos os nutrientes de que necessitamos, rica em frutas, legumes e fibras, a nossa alimentação seja leve, livre de alimentos que dificultem a digestão, como comida processada, frituras, muito gordurosas ou salgadas; também devem ser evitados alimentos que estimulem a atividade nervosa – cafeína, por exemplo. Isso será obtido por outras práticas mais saudáveis, com efeito mais duradouro. Isso é importante principalmente antes de cada sessão de estudo. Quanto ao exercício físico, é importante que seja regular e que não seja excessivamente exigente, que não provoque exaustão ou desconforto, de modo a prejudicar a sessão de estudo. Caminhadas ou pedaladas, natação, a prática de alguma arte marcial, todas essas são geralmente práticas muito saudáveis. Quanto ao sono, a sua higiene consiste em que tenhamos rituais eficazes de dormir. Isto inclui horários definidos, antecedidos por alimentação leve e práticas de relaxamento. É útil se esforçar por não pensar em problemas do dia a dia nesse momento. Algumas pessoas podem sentir dificuldade em pegar no sono mesmo depois de alguns minutos. Assistir à televisão nesse momento dificilmente pode ajudar. Uma sugestão é a leitura de algum livro com o fim de se entreter. Isso produzirá algum cansaço e favorecerá o sono. Por fim, quanto à ansiedade, todas as outras práticas anteriores constituem um bom remédio contra ela. Além disso, uma prática que pode ser de alguma ajuda é escrever em uma página uma lista de preocupações com as respectivas soluções e o momento em que serão adotadas. Caso os problemas e preocupações sejam maiores e mais graves do que isto, talvez seja realmente o caso de se ocupar com eles e até buscar ajuda de terceiros.
Mais algumas palavras sobre a higiene da sessão de estudo ainda são necessárias. Ela é necessária para favorecermos o processo de atenção. Talvez seja útil conhecermos esse processo um pouco melhor. A atenção pode ser ativada por estimulação periférica (externa), quando ela é reflexa, ou pode ser ativada intencionalmente, quando é voluntária. A distinção entre atenção reflexa e atenção voluntária é importante porque elas podem eventualmente competir, e a atenção que é exigida na sessão de estudo é voluntária. É comum que alguma grande mudança em nosso ambiente capture nossa atenção, como um barulho alto e repentino, uma fonte de iluminação subitamente acionada em um ambiente escuro ou coisa semelhante. No entanto, mudanças pequenas em nosso ambiente também podem capturar a atenção reflexa. É curioso que a pronúncia de nosso próprio nome convoca muito poderosamente a nossa atenção. Outros fenômenos como pessoas cochichando ou o som que fazem smartphones quando registram alguma novidade nas redes sociais em que estamos inseridos. Durante a sessão de estudos, o nosso ambiente deve estar o mais limpo possível dessas fontes de estimulação.
Outra distinção importante é feita entre processos automáticos e controlados de atenção. Segundo Sternberg (2010), enquanto os processos automáticos envolvem menos esforço, ocorrem fora da consciência, mobilizam menos recursos cognitivos e executam tarefas em paralelo, os processos automáticos operam de maneira contrária: envolvem mais esforço, dependem da consciência, mobilizam mais recursos cognitivos e executam tarefas em séria, uma após a outra. Na maior parte do tempo, as estratégias de aprendizagem dependem de processos controlados de atenção. Mesmo assim, muitas tarefas que executamos numa sessão de estudo podem envolver processos automáticos. Na leitura, por exemplo, mobilizamos muitos processos automáticos, pelos quais decodificamos a mensagem. No entanto, a compreensão mais profunda do texto exige um processamento controlado. As distrações mencionadas acima muitas vezes causam lapsos e, porque comprometem a atenção voluntária, transformam processos controlados em processos automáticos, eventualmente, causando prejuízo à compreensão mais profunda do texto. É nesse momento que incorremos em diversos erros e o nosso estudo deixa de ser proveitoso. É nesses momentos que nos atrapalhamos em alguma leitura e não conseguimos entender o que lemos, ou quando não conseguimos realizar algum exercício ou resolver algum problema. Ainda segundo Sternberg (2010), a atenção também é imprescindível ao processo de transferência de algo da memória de curto prazo (memória que utilizamos para manter aquilo sobre o que estamos pensando em nossa consciência) à memória de longo prazo (onde ficam as informações armazenadas de modo mais duradouro). Na verdade, o processo de consolidação da memória é bastante sensível a rupturas e distorções.
A sessão de estudo propriamente dita
Depois de avaliarmos e transformarmos o nosso ambiente adequando-o à prática de estudo, é preciso implementarmos uma agenda de trabalho que torne o estudo proveitoso. O primeiro item desta agenda corresponde às metas de cada sessão de estudo. É claro que toda sessão de estudo terá o mesmo objetivo: aprender. No entanto, em situações concretas, como um curso específico, as nossas metas também se tornam metas concretas e específicas. Elas podem incluir: (a) dominar um aspecto importante e definido da matéria; (b) executar uma tarefa proposta pelo professor; (c) exercitar-se na resolução de certo tipo de problema; (d) revisar toda a matéria para um teste etc. Cada uma dessas metas implicará uma agenda específica para a sessão de estudo. Elas oferecem direção específica ao curso de nossa ação, auxiliam o processo de tomada de decisão, por exemplo, quanto a materiais a serem utilizados (a preparação da mesa de estudo), tempo de duração da sessão de estudo, e permitem que, a cada momento, chequemos o real proveito da sessão de estudo, monitorando e avaliando a eficiência e eficácia de nossas práticas. Por outro lado, não contar com essas metas pode ser razão de nos distrairmos. A atenção controlada é dirigida por intenção e propósito; é, portanto, difícil manter a atenção sem o prumo de um objetivo claro e específico. Sem isso, nossa atenção pode mais facilmente tomar desvios e nós, instintivamente, acabamos nos engajando em outras atividades que venham a atrair uma atenção sem a tenacidade de um compromisso.

As metas não devem ser estabelecidas imediatamente antes de cada sessão de estudo. É sensato que elas já estejam descritas no planejamento/agenda, por exemplo, de um semestre ou, ao menos, no planejamento de uma semana de atividades. Outro aspecto do estudo que deve ser levado em consideração no planejamento da agenda do semestre, da semana e de cada sessão de estudo é que a matéria estudada é a dificuldade relativa da matéria, e isso por duas razões: (a) disso dependem decisões sobre quanto tempo terá a sessão de estudo, se nessa sessão lidaremos com uma ou mais matérias/temas etc., (b) é também razoável que comecemos, mesmo no estudo de uma matéria mais complexa e difícil, pelos seus aspectos mais fáceis. A frustração que eventualmente advém da lida com uma matéria difícil também pode ser causa de distração e de perda de motivação. De maneira geral, a sessão de estudo deve iniciar com os aspectos mais fáceis do que está estudando, avançar para os temas mais difíceis, e terminar com os aspectos mais fáceis ou uma tentativa de sumarização do que foi estudado (aquecimento → trabalho duro → desaquecimento).
Com as metas estabelecidas, definimos o que será estudado, e preparamos o material de estudo (livros, cadernos, lápis, borracha, canetas, marcadores, calculadoras, dicionários etc.). Quanto ao manejo do tempo na sessão de estudo, é preciso levar em consideração também o seguinte: além da fadiga física, é observável o processo de deterioração do desempenho da atenção se ela está concentrada durante muito tempo num mesmo campo de estimulação. E esse processo de deterioração, em média, começa a produzir efeitos a partir de meia hora de concentração e se torna crítico a partir de uma hora de concentração. Fazer pequenas pausas ao longo de toda a sessão de estudo é eficaz para a manutenção do desempenho. Além disso, se mudarmos a matéria/tema de estudo após cada pausa, portanto conferindo variedade ao estudo, isso também revigorará a atenção. Esta é conhecida como prática intercalada de estudos (Dunlosky e cols., 2013). A prática intercalada também consiste em que variemos nossa atividade mental ao longo da sessão de estudos, mesmo em cada pequeno intervalo. Por exemplo, se estamos realizando exercícios, é comum realizarmos uma longa bateria de exercícios de natureza semelhante (como muitas versões do mesmo problema matemático). O ideal é também intercalarmos, neste caso, a natureza do exercício que realizamos (como tipos diferentes de problema matemático, numa sequência mais diversificada).
Outros princípios organizativos da sessão de estudos
A sessão de estudo ainda pode ser pensada em sua relação com alguns tipos de resultados. Mais acima foram mencionados algumas metas específicas que uma sessão de estudo pode ter. Essas metas podem ser categorizadas entre os tipos de resultado geral esperado de uma sessão de estudo. Em termos bem sumários, eles podem ser (a) memorização de algo – por exemplo, de nomenclaturas em uma aula de farmacologia; (b) aquisição de uma habilidade – como preparar um orçamento numa aula de administração; (c) desenvolvimento de um esquema mental – por exemplo, para a comparação de duas escolas de pensamento numa aula de filosofia; (d) exercitar-se ou testar-se em algum desses resultados – como parte do processo de constante automonitoramento e autoavaliação; (e) a produção de algum tipo de trabalho acadêmico – como uma dissertação. Em todos esses casos, o que se está fazendo é produzir ou testar algum tipo de memória. Por essa razão, a sessão de estudo também deverá ser organizada levando em consideração alguns aspectos do funcionamento de nossa memória.
Uma prática muito comumente utilizada para memorização é o ensaio, que consiste em que repetimos nosso contato com certa porção de informação (por exemplo, recitando algo até memorizarmos). Investigações sobre a eficácia dessa técnica mostram que uma prática distribuída – isto é, em que as sessões de ensaio são realizadas com um intervalo entre elas – é mais eficaz do que a prática contínua – sem esses intervalos. Isto significa que as sessões de estudo devem perseguir este efeito de espaçamento, que afeta positivamente a consolidação da memória.
Na prática, um determinado tema deve ser estudado várias vezes em sessões diferentes de estudo. Isso pode ser feito por meio de uma sessão mais sistemática de estudo e outras de revisão mais sumária. O ensaio, no entanto, não deve ser apenas uma sessão de repetição do que quer que seja. Para que seja eficaz, cada ensaio deve envolver uma forma diferente de lidar com a matéria a ser aprendida, uma maneira diferente de representá-la ou de relacioná-la com o conhecimento prévio. Trata-se do ensaio elaborativo, em contraste ao ensaio de manutenção. Uma possibilidade é estudar a matéria sistematicamente e, então, sumarizá-la de diversas formas nas sessões seguintes, por meio de anotações esquemáticas, representações gráfico-figurativas etc., ou relacionar a matéria com outras matérias e temas. Cada uma dessas possibilidades acrescenta algo importante ao processo de memorização: as anotações esquemáticas implicam a sumarização da informação, portanto, a elaboração da estrutura profunda do tema a ser aprendido; as representações gráfico-figurativas elaboram a informação num registro diferente, num sistema de memória diferente, reforçando o processo de sua consolidação em diversas vias; e a relação do tema em questão com o conhecimento prévio aproveitará uma estrutura organizacional pré-existente na memória e tornará o conteúdo significativo, mais uma vez, favorecendo o processo de consolidação da memória.
Um cuidado importante que se deve ter com a variedade de matérias/temas durante as sessões de estudo é que não sejam muito semelhantes e provoquem, assim, interferências no âmbito da memória de curto prazo. A interferência ocorre quando elementos em uma matéria/tema a ser memorizada se confundem com elementos de outra no campo da memória de curto prazo. Isso dificulta a consolidação dessa memória. A interferência pode ser tanto retroativa – quando uma matéria/tema interfere na recuperação de outra que foi estudada anteriormente – quanto proativa – quando uma matéria/tema interfere em outra que estudada posteriormente. Um remédio contra isso é que cada matéria/tema deve ser representado como uma unidade de sentido na sessão de estudo – um tema com começo, meio e fim. Essa unidade dará contornos nítidos ao que foi estudado e prevenirá a interferência. Além disso, outra forma de prevenir a interferência é variar as matérias/temas estudadas segundo a natureza de seu conteúdo. Sabe-se que conteúdos que envolvem quantidades interferem na memorização de outros que envolvem quantidades. Assim, numa mesma sessão de estudo se pode ter matéria/tema que envolva quantidade e também matéria/tema que envolva conteúdo discursivo, sem que isso gere problemas.
Uma técnica a inserir em nossas sessões de estudo
Uma técnica adicional que favorece a memória e, por conseguinte, a aprendizagem, é a prática de testes. Aqui não se trata dos testes utilizados pelos professores para atribuição de notas aos estudantes, que tanto os assusta e, eventualmente, repulsa. O fato é que quando os estudantes, em suas sessões de estudo, utilizam maneiras variadas para aferir o quanto estão aprendendo, a qualidade de sua memória a aprendizagem melhora bastante (Dunlosky e cols., 2013). O estudante precisa, então, inserir mecanismos de teste de si mesmo em suas sessões de estudo, para melhor desempenho de sua memória. Os testes podem assumir as mais diversas formas: tarefas de associação, por exemplo, com o uso de flashcards; tarefas de completar sentenças; a utilização dos exercícios propostos (muitas vezes, disponíveis nos livros-texto utilizados) para autotestes etc.
Os estudos nesse campo também mostram que, sob certas condições, essa técnica é ainda mais proveitosa. Em primeiro lugar, sabe-se que quando mais frequentes forem os autotestes, melhor, mais extensos são os seus efeitos. Em segundo lugar, também se sabe que a prática de autoteste não deve ser feita imediatamente em sequência ao período de exposição do estudante à matéria estudada. Aqui, mais uma vez, o estudante se beneficiará da prática distribuída de estudos, isto é, ele deve planejar sessões de testes algum tempo depois de ter se exposto ao material estudado. Em terceiro e último lugar, o estudante precisa se beneficiar as eventuais correções que a prática de testes pode revelar ao estudante, acerto de falhas na compreensão de algum elemento da matéria, deficiências localizadas, descobertas a partir da solução difícil de certos tipos de problemas e coisa semelhante.
Considerações finais
Por fim, é preciso dizer que, muito embora todas as 7 dimensões em que a sessão de estudo deve ser pensada e planejada, não é algo que torne irrealizável a tarefa de ter uma prática de estudo bem organizada e estruturada. Todas essas dimensões são rapidamente assimiladas e rapidamente incorporadas à rotina de preparar-se para o estudo e de engajar-se em práticas estratégicas de aprendizagem. Adequar-se a cada uma dessas exigências também se tornará um hábito muito rapidamente e, uma vez automatizadas essas práticas, elas não acrescentarão absolutamente nenhum esforço às futuras sessões de estudo, mas tornarão cada uma delas muito mais proveitosas.
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Referências Bibliográficas
Cosenza, R. M., & Guerra, L. B. (2011). Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed.
Dunlosky, J., Rawson, K. A., Marsh, E. J., Nathan, M. J., & Willingham, D. T. (2013). Improving student’s learning with effective learning techniques: promising directions from cognitive and educational psychology. Psychological Science in the Public Interest, 14(1), 4-58.
Lent, R. (2010). Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Cengage Learning.
Sternberg, R. J. (2010). Psicologia Cognitiva. São Paulo: Editora Atheneu.
Texto: Hugo Matias - Pai Educador.
Revisão: Bárbara Guinalz - Equipe Educalar
Imagem: Canva Educalar
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